segunda-feira, 9 de abril de 2018

Livro\cd «Poetas Portugueses de Agora», da Lisbon Poetry Orchestra








Livro\cd  «Poetas Portugueses de Agora», da Lisbon Poetry Orchestra, editado pela Abysmo



Horta Seca, Lisboa, 17 Março



Vou vivendo vários livros ao mesmo tempo, a pensar na cadência da frase, na profundidade de uma observação, a conversar com personagens, a dialogar, em silêncio ou não, com o autor, a vislumbrar a sombra do objecto. Matuto ainda no detalhe, nas inúmeras combinações a convocar para que se torne material um espírito volátil suscitado pelas letras. Depois, a urgência obriga-me a mergulhar como âncora em um apenas, aquele e não outro. Nos últimos dias foi «Poetas Portugueses de Agora», da Lisbon Poetry Orchestra. Primeiro foi a música do Tiago Inuit, Luís Bastos e Filipe Valentim, capitaneada pelo Alex Cortez a partir de busca da voz dos poetas, Cláudia R. Sampaio, Daniel Jonas, Filipa Leal, Paulo José Miranda e Valério Romão. Seguiu-se a harmonização das vozes deles com a dos diseurs, Paula Cortes, Nuno Miguel Guedes, André Gago e Miguel Borges. Muitas afinações depois, o papel começava a ser horizonte desenhado pelo Daniel Moreira, através de aproximações esboçadas em objectos e seres fragilizados pelo lápis, fragmentos de natureza, minerais e madeira, paisagens melancólicas, céus e paredes com sujidades, correcções a branco (exemplo algures na página). O livro chegou ontem, também ele concebido pelo Daniel como caderno de campo, diário de viagem, com páginas em branco para serem desenhadas pelos leitores a partir da experiência dos inúmeros concertos anunciados, ou do cd com vozes e música ou das palavras ou do silêncio. Hoje celebramos a exposição, não apenas de desenhos, mas da ideia que os sustentam, móveis que permitem aos que queiram sentar-se, ouvir, ler, desenhar. Uma janela apenas abre para outras linguagens, uma caixa com vista para a oficina do artista. , «Caderno de um Mundo Inacabado», assim se chama. O Daniel interpretou bem a força que se solta desta fragilidade, a palavra como ferida no joelho nascida do tropeção durante a corrida. Desenhou sobre o abysmo uma montanha que se pode tocar, subir com os dedos.

excerto do texto "Geometrias variáveis" do João Paulo Cotrim para o Hoje Macau sobre o Livro\cd  «Poetas Portugueses de Agora», da Lisbon Poetry Orchestra e da exposição Caderno de um mundo inacabado na Abysmo galeria, publicado no dia 21 de Março.


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